Quem me conhece sabe o quanto valorizo a história, em especial a de Taboão da Serra, cidade em que sou nascido e criado. Não poderia deixar passar em branco minha consideração sobre o discurso do atual vice-prefeito e prefeito por dois mandatos (1982 a 1988 e de 1993 a 1996), José Vicente Buscarini durante a cerimônia de entrega da Medalha Laurita Ortega Mari, honraria ofertada pela Câmara Municipal para homenagear as mulheres do município, neste dia 27 de maio.
Pouquíssimas pessoas em Taboão da Serra poderiam falar com tanta propriedade sobre a ex-prefeita Laurita Ortega Mari como Buscarini falou no evento. Não só falou, como também se emocionou ao lembrar de passagens tão marcantes com ela. Com profundo conhecimento, abordou as principais realizações do mandato de Laurita à frente da prefeitura entre 1964 e 1969, como a criação do serviço social de ajuda aos mais carentes, a construção do prédio da prefeitura, a implantação do serviço telefônico com discagem direta, a construção do Cemitério da Saudade, entre tantas outras conquistas.
De forma muito grata e na forma de uma homenagem ímpar, Buscarini frisou, ao se dirigir às homenageadas, para que elas se sintam honradas não só apenas pela medalha, “mas sim por uma comenda, de uma senhora que escreveu o nome de Taboão da Serra no Brasil”. Laurita, entre 1964 e 1969, governou com foco no social e na consolidação de Taboão como um município, já que a cidade havia sido emancipada, até então, há pouco tempo, em 1959. Ela sucedeu Nicola Vivilechio, o primeiro prefeito da cidade. Ainda é a única mulher prefeita da história do município.
Foram palavras tão bem colocadas, tão nobres e históricas, que entendi necessário fazer a transcrição do discurso de José Vicente Buscarini para que todos tenham acesso ao memorável relato realizado neste dia 27 de maio de 2021. Saibam que sempre que este jornalista puder, utilizará este veículo de imprensa para enaltecer tudo aquilo que possa engrandecer cada vez mais a história da nossa Taboão da Serra e da região!
E, ainda nesta semana, o Jornal SP Repórter trará todas as informações, em detalhes, da cerimônia Medalha Laurita Ortega Mari, edição 2021. Desde já, parabenizo a todas as homenageadas.
Leia na íntegra o discurso do vice-prefeito Buscarini nesta quinta-feira (27):
“Hoje é um dia de muita alegria para mim participar deste ato que eu coloco não apenas como uma medalha, mas como uma comenda. Eu tenho certeza de que a grande maioria que hoje aqui está não teve o privilégio de conhecer Laurita Ortega Mari. E eu sou um dos poucos homens públicos que pôde conviver com dona Laurita Ortega Mari. É um mito Laurita Ortega Mari na nossa cidade. Talvez as pessoas não reconheçam a profundidade do seu governo. Só para enaltecer alguns dos seus feitos: a construção do prédio municipal aonde a Prefeitura ainda hoje está instalada; o serviço telefônico, que para a época era o mais moderno do Brasil, com discagem direta nos anos 60. E eu recordo muito bem que o telefone da minha casa era 275, o telefone da Prefeitura era 333, o telefone do meu escritório da Autoescola Buscarini era 404. Era uma proeza nos anos 60; o Cemitério da Saudade, o único cemitério ainda de Taboão da Serra.
Talvez a maioria também não saiba da veia social da Dona Laurita. Era uma mulher que antes de ser prefeita já construía uma história linda, que depois veio a se consagrar como prefeita da cidade. Aonde hoje é o Hospital Family, ali era a residência de Laurita. Um pouco abaixo, ela tinha uma granja, administrada por uma outra pessoa especial em Taboão da Serra que era o Chico Mari (Francisco Ettore Pedro Mari). Ele era uma sumidade na política de Taboão da Serra, o marido de Dona Laurita, que também tive o privilégio de conhecer. Ele era, sem dúvida, a cabeça pensante da Prefeitura e a Dona Laurita era a política de fato. Muito próxima do governador do Estado de São Paulo, Ademar de Barros. Era aquela época que o prefeito pegava o telefone e ligava diretamente para o governador e o governador atendia Dona Laurita. Carinhosamente ela a chamava de Dona Laura, que era seu nome de batismo. Isso aconteceu nos anos 60. E eu estava presente, porque eu cheguei em Taboão da Serra em 1956.
O que me deixa mais encantado nesta história que a Dona Laurita, depois de eleita, criou o Serviço de Assistência Social de Taboão da Serra e esse serviço foi implantado, nada mais e nada menos, pela Dona Maria José Luizetto Buscarini, que eu tenho a honra de dizer que é a minha mãe, a Dona Zeza. Um trabalho magnífico, olhando as crianças, as gestantes, os primeiros pré-natais aqui na nossa cidade. Tudo feito pela Assistência Social criada nos anos 60.
A Laurita tinha uma granja – e aí vai um pouco dos nossos sentimentos, da minha história e da minha veia política na questão social. Muita gente diz: ‘Por que que o Buscarini tem essa veia social?’. Foi nesse aprendizado de Dona Laurita.
Ela tinha uma granja, na verdade um abatedouro e que, naquela época, não se vendia os miúdos (os pés, a cabeça). Ela armazenava e toda semana e entregava para cada uma daquelas pessoas mais carentes da nossa cidade para que elas pudessem se alimentar. Quantas e quantas vezes eu vi Dona Laurita entregando pessoalmente, na porta da granja, os miúdos.
Eu tive uma história linda nesse momento! Ela entregava esses frangos para os restaurantes mais famosos da capital de São Paulo. E quem fazia essas entregas era meu pai. Muitas e muitas vezes trabalhei com meu pai entregando os frangos para Dona Laurita Ortega Mari. Por isso que eu digo para vocês que é motivo de muito orgulho falar de Dona Laurita.
E uma coisa muito bonita, de garoto, nós tínhamos nossas bicicletas, e elas tinham placas. Na época, a Prefeitura de Taboão concedia as placas. E um dia a Dona Laurita convidou nossa família para ir até a casa dela. Ela tinha um sobrinho, o Kiko, que também convivi um bom tempo com ele, e ela entregou a placa número 1 ao Kiko e a número 2 para mim. Eu tinha nove anos de idade.
E a minha mãe, para me tirar da rua, me colocou em duas escolas. Uma era o quarto ano primário, e outra era a escola de admissão, que muitos dos mais antigos lembram, que era a preparação o ginásio. E minha mãe me colocou numa escola extremamente longe, em Pinheiros, para que eu pudesse estudar. Mas era uma escola muito elitizada. Uma escola cara. E eu tinha o dinheiro sim, minha mãe pagava com muito sacrifício. Eu tinha um uniforme, que era muito bonito, mas eu não tinha o agasalho de inverno. E o meu aniversário é no mês de maio. E a Dona Laurita, no dia do meu aniversário, me deu um cheque, para comprar o meu uniforme (Buscarini ficou muito emocionado).
Essa é a história de Laurita. Então aqui, a todas vocês homenageadas, se sintam honradas, não por uma medalha, mas sim por uma comenda, de uma senhora que escreveu o nome de Taboão da Serra no Brasil. Foi a primeira mulher eleita prefeita pelo voto direto no Brasil. E poucos tiveram o privilégio de estar ao lado dela. Então eu faço aqui um desabafo daquilo que um dia eu nunca pude falar para ela: ‘Dona Laurita, eu te amo! Você é a mulher exemplar dessa cidade”. E a mulher é o poder do Brasil! Feliz daquele que tem ao seu lado uma grande mulher! A vocês homenageadas, se sintam extremamente agradecidas por este momento histórico. Parabéns, Taboão da Serra! Parabéns, mulher brasileira! Parabéns, mulher de Taboão da Serra! Muito obrigado!”
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